quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"Papai Noel do céu, no dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa, eu te pedi uma boneca. Uma boneca... Uma boneca, pra ser minha companhia. Vovô e vovó, Você levou no seu trenó pra viver cuidando e admirando as renas, quem sabe se eles não estão descansando aí na sua poltrona enquanto lê essa cartinha? A minha boneca veio, mas eu a esqueci após três ternos meses. O encanto se desfez; papai me
 disse que cresci.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e um, eu já queria saber das coisas, e pedi pra saber, lembra? Acho que os presentes não são só materiais; alguma magia entrou na cabeça do papai, e fez o cabra me colocar numa escola. Escola, escola... O que é uma escola? Nada mais senão a perdição de severas palavras, nas quais aqui eu mergulho em esperança de obter resposta.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e dois, as minhas companhias foram boas, mas não cheias. Não queria bonecas, nem amigos; queria algo que a minha professora sempre dizia, que só os meus pais, minha família e os namorados que se viam nas portas das casas podiam ter: um tal de amor. Amor, amor... O que é amor? Nada mais que os meus velhos escritos na gaveta empoeirada de mármore que me aguardam na sala, sós.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e três, eu não pedi nada, porque já tinha tudo. Esse tal amor que os namorados partilhavam nas ruas, não veio pela chaminé da minha casa, ou pelas meias penduradas neles. Ele era grande, mas pequeno. Perfeito, mas desengonçado. Liso, mas todo cacheado nos cabelos. Forte, mas leve. Ele era o sonho que eu desejava viver.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e quatro, lembrei-me de seus lábios rosados. Os mesmos lábios que fizeram biquinho para mim:
- O que é beijo?
- É um movimento que você faz com os beiços assim, encostando com os seus na outra pessoa...
- Assim?
- Assim.
- Engraçado.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e cinco, à memória me veio o sopro fresco de uma tarde que se finalizava num dia perto dos inícios do ano. Do jeitinho que me ensinou, cerrei-lhe as pupilas, como boba. Roubei-lhe o tal “beijo”, no qual nos enamoramos tanto. Beijos, beijos... O que são beijos? Nada mais que o relato de duas pombas recém-nascidas que se destinaram a ficar juntas em diversos movimentos e poses.
No dia 24 de Dezembro de mil novecentos e noventa e cinco, eu voltei a escrever-lhe; não cartas, mas livros. Folhas com lágrimas, amores esquecidos. E o senhor não realizou meu maior desejo: trazê-lo de volta aos meus braços.
Já se passam quase dezessete anos que lhe escrevo, meu bom velho, para lhe relatar nada mais que as minhas memórias, já que meus desejos são, por si só, inalcançáveis. Pus-me no teu lugar: tentei realizar meus próprios desejos, mas não vi neles pureza e alegria que me complementassem. Não tenho herdeiros para quem repassar tua existência. Aguardei meu anjo, buscando em outros braços seus abraços; seus beiços tão inesperados e, enfim, desesperados pelos meus.
Hoje é dia 24 de Dezembro de dois mil e doze, já tenho quase trinta anos, e quase me convenci de que o senhor não existia mesmo. Hoje, ele veio à minha porta; e lá estavam os beiços esperando por mim, um brilho nos olhos e um floco de neve sublime em suas mãos, dizendo que tu mesmo havias enviado.
Não lhe encho mais, desta vez.
Karine Léa."

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Vlw.